sábado, 20 de fevereiro de 2010

"Quem dança na beira do mar é sereia"


Tinha uma enorme dificuldade com seu nome. O pai o batizara assim depois de ler o nome na lista do vestibular de 1987.

Pausa para comentário da autora: -Lista do vestibular!!!!!

Era um pai criativo, queria todos os filhos com nomes diferentes e Leprechaun foi o primeiro deles. Por ser o primeiro, deveria ter o nome mais pomposo, impactante, nome de estrangeiro. Depois vieram: Berlusconi, Anoreprina( essa foi idéia a partir de um descongestionante nasal que tomou durante a gestação da esposa) e Pedro. Pedro? É Pedro mesmo, isso por intervenção da matrona que não mais permitiu a José nomear os rebentos. Uma fase difícil do casamento digamos assim.

Como pai criativo que era, previu também o futuro de Leprechaun: piloto de fórmula 1. Nada de ser jogador de futebol feito o filho de dona Marindalva. O negócio era ser o ás em um esporte de "bacana". Tudo bem que seu José tinha uma Brasília 1980, caindo aos pedaços, o que, sob nenhuma hipótese, suprimiu a idéia fixa de ter o primogênito dirigindo uma Ferrari.
Nasceu em casa mesmo, nada de maternidade que era coisa muito custosa. Nas mãos de dona Zefinha, berrou ao mundo o aviso de sua presença. Não teve lá um berço de ouro, sequer tinha um berço, dormia na cama com os pais. Mas tinha um nome de rei.

Na alfabetizaçãoa, sofreu mais do que sofrem os Michael, Polyanna, Godofredo, Emanuelle... já que estes se pronunciam diferentemente da escrita: Maicou, Poliana, Grodofedro, Emanoeli. Não fica difícil então imaginar Leprechaun: Liprixaum, Lipechrauim, Lêpreshão dentre tantas outras possibilidades plausíveis de escrita e dicções.

Os primeiros dias de aula eram torturantes, na hora da chamada para presença havia sempre um gaguejar das professoras. Na infância, as crianças eram impiedosas, como devem ser crianças para poderem se conter quando adultos. Durante todo primário teve que agüentar o bonachão do Tobias sentado nas últimas cadeiras gritar:

-Vai professora! O nome dele é fácil! Fala que nem se escreve.

E lá vinham:

-Lê... Lé.. Li... com um olhar meio de lado tentando advinhar na expressão do pobre aluno alguma pista da sonoridade do nome.

Até que uma falou:

-Vem cá menino, tu não tem um apelido não?

Prato cheio pra Tobias. Bendita professora e toda a pedagogia que aprendeu no bar da esquina. Eis que surge o famoso apelido de Peixaum. Que dentre todas as derivações naturais dos apelidos virou Pêi.

Conhecer uma menina na adolescência era um terror.

-Oi

-rsrsrs Oi. Como é seu nome?

-...

Sempre se perguntou o porquê da existência dos nomes. O nome atrapalhava tudo. Ainda pior se Tobias estivesse por perto.

-Peixaum é o nome dele! Pêi pros íntimos!!! Hahahaha

E lá se ia Tobias gargalhando e se engasgando com o próprio riso. E lá se ia a paquera.

Não virou piloto de fórmula 1. Sequer pisou em uma pista de kart. O sonho de seu José foi junto com tantos outros sonhados infinitamente. Mas seu José nunca parou, se caía um sonho por terra, tratava logo de inventar outro. O futuro dos filhos decidiu que não mais cogitaria porque isso era “coisa pra homem ignorante” e proferiu:

-Quem decide o futuro dos meninos são os meninos!

Berlusconi não virou artista de televisão, Anoreprina não descongestionou a vida dos pais nem virou médica, Pedro nunca foi padre e Leprechaum...

Leprechaum não virou peixe mas achou sua sereia, não dirigiu uma Ferrari mas teve seu Uno, virou um homem de honra com contas a pagar e pagas em dia, com indignação para com seus governantes, com recusa em ver um filme que idolatra seu presidente próximo ao ano de eleição, com gentileza aos pais, com choros quando não mais agüentava a pressão e com boas risadas ao lado de Tobias seu colega na fábrica de solas de sapato.

;)

De onde veio o nome?

Descrição da Wikipedia:

“Figura mitológica do folclore da Irlanda, o leprechaun (pronuncia-se /LÉP-re-káum/) é apresentado como um diminuto homenzinho, sempre ocupado a trabalhar em um único pé de sapato em meio às folhas de um arbusto. Ele é tido como o sapateiro do povo das fadas. Os leprechauns são considerados guardiões ou conhecedores da localização de vários tesouros escondidos. Para obter tais tesouros (normalmente um pote de ouro) é preciso capturar um leprechaun e não perdê-lo nunca de vista. Caso contrário, ele desaparece no ar. Os leprechauns são descritos como sempre alegres e vestidos à maneira antiga, com roupas verdes, um barrete vermelho ou um estranho chapéu de três pontas, avental de couro e sapatos com fivelas.”

Se vir um por aí... corre e vai atrás do pote de ouro!

2 comentários:

Maíra Caldeira disse...

Acho que a senhora devia fz uma compilação de suas histórias para publica-las e conividar sua amiguinha aqui pra ser a ilustradora.
bjs

Maria disse...

kkkkkkkkkkkkkk
É uma idéia né Má.
Mas, por enquanto, o blog me basta. Se quiser mandar as ilustrações, eu faço as permutas e nomeio vc ilustradora oficial. Encara?
Saudade viu.
Bjoo