terça-feira, 20 de outubro de 2009

Fresca

Chamaram-na fresca! Tolerava muita coisa, mas fresca, fresca era demais.
Após um casamento de quatro anos, Areovaldo ousou chama-la fresca.
Quatro anos é pouco para um casamento, pouco pouco, muito pouco. Pouco para tanto desconhecimento de respeito e educação da parte de Areovaldo. Tudo bem que Florinda não era uma mulher desprendida de qualquer coisa material. Nem de perto lembrava a amiga Amelia, a que não tinha a menor vaidade, mas definitivamente não era uma perua. Tinha seus cuidados, possuia sua delicadeza e assim o era com outrem, parecia uma flor em sugestão ao próprio nome. Às grosserias do marido respondia com bom humor pois não eram tão frequentes e pelo amor que cultivara no início de tudo... Ah o início, tão decisivo para as mulheres.
Mas eis que da flor fez-se espinho e em igual tom respondeu ao marido tão soberbo de sua certeza:
-Como pode achar ruim sentar-se nesse banco de madeira Florinda?!!!
-Mas Areovaldo, meu vestido é branco, branco! Nem OMO lava tão branco! N-o-v-i-n-h-o! Choveu, o banco está meio molhado, vai manchar o vestido...
-Fresca. Mas você é muito fresca mesmo!
O fato apenas da afirmação, poderia até ter sido levado com mais uma pitada de humor, mas o olhar dele sobre ela, isso doeu. Respirou fundo, sentiu a raiva subir à cabeça e o sangue pulsar fortemente. Olhou com delicadeza para o marido, pensou na sorte de não ter filhos e :
-Querido, acha-me realmente fresca? Acha que tenho o frescor das manhãs como uma dessas poesias bregas que você gosta?
-Que?
-Deixe-me explicar querido. Nesses quatro anos de convivência, surpreende-me sua ignorância. Sua esposa em definitivo é fresca, ou sequer chega perto de sê-lo. Saiu de casa aos vinte anos para trabalhar em outra cidade, tudo bem que aos vinte anos eu não era nenhuma adolescente, mas também não era uma adulta completa. Dividiu apartamento com todo tipo de gente, enfrentou o duro dia a dia sem pedir um centavo aos pais apesar da insistência dos mesmos. Sentiu uma saudade imensa de casa e teve medo do escuro. Chorou no canto da casa um mimimi sem fim. Quis retornar e não poder. Levou a sério as dificuldades de seguir adiante. Morou em lugares ermos para conseguir um mínimo de economia. Esteve só no mundo por longos e demorados dias. Descobriu que a solidão não é tão ruim quanto parece. Foi acolhida por completos estranhos. Repetiu para si mesma que a vida iria melhorar. Recebeu uma promoção, mudou de lar, sentiu-se amada e amou. Prezou por fazer boas escolhas e descobriu que você meu querido, você meu lindo, você, foi uma escolha muito mal feita. Isso, sobremaneira é ser fresca Areovaldo. Agora o meu vestido, esse não será manchado porque você o quer e está a fim de assistir o jogo de futebol da Barroquinha do seu primo!
-Mas...
-Sem "mas" Areovaldo Silva. Sem "mas"! Fale com meu advogado. Vou voltar para casa.
-Malditas TPMs.
Só que dessa vez foi sério. Florinda voltou pra casa sozinha, ligou para Ricardo e teve uma bela tarde de domingo.
É meu povo, o mundo está mudando.

RESUMÃO:

Relata a falta de bons modos que as mulheres tem com seus maridos atualmente. Nesta estória a Florinda - uma mulher fresca e enjoada - não deixa o marido fraternizar com seus amigos na barraquinha do seu primo enquanto assiste a um clássico na televisão. Revoltada vai para casa, e fica de namorico com outro sujeito.
Concluindo, a mulher perdeu os bons modos, não respeita mas seu homem, e estão dominando os andares mais altos dos trade center. "- Homens, vamos à cozinha prosear".
ps.: escrevo em letras pequenas para evitar represálias.

By Adonay

Um comentário:

Milena Matias disse...

É, Florinda não pode, nunca, jamais, em tempo algum, ser chamada de fresca!!Não condiz!!Seria falta de vocabulário de Areovaldo??

AO SENHORITO ADONAY, EM LETRAS MAIORES,EU LI O RESUMÃO!
RESUMO:HOMEM QUANDO NÃO TEM ARGUMENTO CHAMA A MULHER DE FRESCA

AHAHAH

Beijo nos dois!!