Caminhando por terras longínguas, a digníssima donzela finalmente encontra uma lâmpada mágica capaz de estabelecer conexões com outras donzelas, príncipe encantado, a corte, rei e rainha e quem demais importasse. A donzela esfregou com voracidade a lâmpada, surgiu o gênio e o direito a três desejos.
Desejo um: internet. Dois: permanecer viva depois de tantas aventuras. Três: ter direito a mais três desejos.
Desejo um a se cumprir…
São vinte dias de viagem até a presente data, vivências distintas e tudo necessita ser explicitado.
Primeira parada: Pará.
A chegada em Belém foi amistosa, pessoas gentis, comidas que anestesiam a língua e túneis de mangueiras. A cidade é coberta por mangueiras e, como toda boa mangueira, ou se faz bons sambas ou se tem mangas por todos os lados. Chove todos os dias, mangas e água. A água refresca, sempre. Mangas matam a fome, quebram parabrisas, causam concursões cerebrais e, mesmo assim, são bem vindas, muito. Foram parar lá por idéia de um governante euxasto em tanto calor. Funcionou para o aquecimento e a beleza da cidade.
Belém oferece boa educação, contato com a natureza sem adentrar o território do Plasmodium, Teatro da Paz, garças por todos os lados, jambu, tacacá, açaí, Jardim Botânico com um quateirão imenso de floresta, tucupi, barcos, museus, shows de brega com holofotes de longo alcance, Docas com cerveja de fabricação própria, praia do Mosqueiro com um mar de água doce e ondas onde se pode praticar kitesurf, Ilha de Marajó…
Marajó merece uma descrição mais apurada. A Ilha está no delta do Amazonas, três horas de navio de Belém a Marajó, encontro do rio com o mar, natureza intocada, búfalos selvagens que salvaram-se após o naufrágio de um navio colonizador há tempos atrás. Água com cara de mar, verdinha, verdinha; gosto de rio, doce, doce. Pousada de frente para as falésias, papo furado com os ilhéus, bar de seu Japão.
Exemplo de conversa entre o pai da donzela e o dono do bar:
- Mas por que o senhor se chama Japão?
- Num sei viu. Dizem por aí que tenho cara de japonês, mas eu sou é paraense mesmo.
- É, tu não tem cara de japonês não…
- E quem tem então? O senhor???
Descrição do pai da donzela: loiro, olhos verdes e barba branca. Deduz-se que seu Japão está definitivamente convencido de sua semelhança com um japonês, o único da ilha. Entretanto, seu Japão fornece o mais fresco peixe já comido nesse ano corrente e uma conversa mole divertidíssima.
Segunda parada: Amazonas.
Manaus é extremamente, mas extremamente, ao extremo, quente. Ferve, 41 graus fácil.
Manaus oferece o Teatro Amazonas e uma das mais perfeitas acústicas do mundo há mais de um século. Oferece banho com botos cor de rosa( sem gestações desavisadas), passeios pelos igarapés, tucumã que serve como sanduíche salgado ou sorvete doce, pirarucu( o bacalhau amazônico), contato com índios, tucunaré, pescaria com piranhas, Rio Negro e águas mornas, subaúma e sua raiz gigantesca, preguiças, jacarés, macacos, cotias, juriti, Rio Solimões e suas águas gélidas, histórias dos seringais, buriti, breu branco e um aroma inconfundível, gigantescas Vitórias Régias, lendas e mais lendas e uma população com visível descedência indígena.
Mas Manaus oferece mais, oferece um toque de consciência da natureza ainda não percebida, uma noção de miséria inigualável e uma certeza de que, do modo como está, nada mais se sustenta. Manaus trouxe à donzela o medo do fim.
Segundo pedido, já atendido. A donzela que vos escreve continua viva e saudável.
Terceiro pedido…
-Posso trocar seu Gênio? Posso pedir que tudo não se acabe tão cedo??? Deixar a floresta inteirinha? Então peço!
Beijo meus amigos.
Volto breve.